Nesta nossa era, nesta “meia-noite” em que vivemos,
precisamos de crentes cheios de ardor por Deus. No dia de Pentecostes, o
fogo do Espírito Santo que desceu sobre aquele grupo, incendiou o coração de
cada um deles. E a igreja teve início ali, com aqueles homens agonizando. Hoje,
ela está terminando, com seus líderes nos restaurantes, fazendo planos.
Ela começou num avivamento e está terminando num ritual. Começou com uma força
viril; hoje termina estéril. Os membros fundadores eram indivíduos de grande
fervor, e nenhum título; hoje, temos muitos títulos, mas nenhum fervor. Ah, irmãos,
nossa maior necessidade agora é de homens com o coração abrasado.
Os crentes precisam ser colunas de fogo, guiadas por Deus,
para orientarem uma geração desorientada. Precisamos de fervorosos Paulos para
estimular os temerosos Timóteos; de pessoas em chamas para brilhar mais que as
que têm fama. Precisamos de crentes fortes para dirigir noites de oração.
Precisamos de verdadeiros profetas, que nos alertem sobre os lucros
ilusórios: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
(Mc 8.36).
É triste ver, nestes dias do fim, esses conferencistas que
pregam uma crença fácil. O clamor geral deveria ser como o do profeta: “Tocai a
trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai uma assembléia solene...
Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor”. (Jl 2.15,17).
Comparados com um coração que conheceu o fogo de Deus, mas
permitiu que ele se apagasse, os picos gelados dos Alpes são até quentes. Só um
calor muito intenso pode derreter um metal. Removendo-se o metal do fogo, ele
se solidifica. Assim também o coração humano sem o calor do céu se torna um
icebergue.
Se um pregador não possui o Espírito de Deus, seu gabinete de
estudos não passa de um laboratório onde ele disseca doutrina e cultiva dogmas
sem vida. É preciso unção para ensinar; a verdade tem que ser apresentada de
forma incisiva; e a palavra de conforto deve transmitir vida, em vez de deixar
o ouvinte sonolento.
Precisamos urgentemente de crentes inspirados. Esta geração
degenerada necessita de homens movidos pelo Espírito. Se nosso ardor não passar
de uma mera chama humana, se nosso fogo nada mais for que um sectarismo carnal,
será apagado pela ventania da iniqüidade que varre esse tempo do fim. Neste
momento, o mundo está sendo avassalado pelo impetuoso vento das falsas
religiões e do cristianismo morno. E nós também, alertados sobre essas falsas
chamas por homens sem ardor, acomodamo-nos a uma vivência cristã sem fogo
espiritual.
Incapazes de distinguir entre carne e Espírito, os religiosos
de hoje estão alardeando, em manchetes bombásticas, que já se divisa um novo “boom”
espiritual. Mais uma vez o bom está tomando o lugar do que é melhor. (Os sábios
entenderão). Na verdade, temos motivos é para nos alarmarmos. A luta está cada
vez mais dura. Que Deus se apiede das nações, que hoje são vitimadas por
religiões criadas por homens, castigadas pela presença de seitas humanas,
e condenadas por doutrinas de homens. Será que pode ter havido outra era
pior que esta? Este é o preço que temos de pagar pelo progresso: esforço
redobrado.
Como estiver a igreja, assim estará o mundo. Se a sentinela
dormir, os inimigos invadirão a cidade. O pregador deveria ter pelo menos um
dia para preparar o sermão, e mais um para preparar o pregador que irá pregar o
sermão. A inspiração é tão misteriosa quanto a própria vida, e ambos vêm de
Deus. A vida, pela sua própria natureza, gera vida. Assim também, só crentes
inspirados conseguem inspirar outros.
Estamos precisando hoje de novos Josués para conduzir o povo
de Deus à terra prometida da vida cheia do Espírito. Como o povo de Israel, nós
já conseguimos escapar do Egito e do faraó (que para nós são o mundo e
Satanás); mas fracassamos em Cades-Barnéia. É que algo que pode ser um degrau
para levar-nos a posições mais elevadas, acaba-se tornando uma pedra de
tropeço. Algo que deve ser apenas um portão de acesso à nossa meta, torna-se a
meta em si. E algo que deve ser uma via de passagem, torna-se o ponto final da
linha. Já abandonamos a pobreza do mundo, mas ainda não entramos na Canaã das
riquezas de Deus.
Imagine só! Durante quarenta anos o povo escolhido de Deus
não presenciou milagres, nem recebeu respostas de oração — só tiveram morte,
sequidão e trevas. E tudo por causa da incredulidade. O argumento deles foi: “Esses
gigantes são grandes demais para nós!” (Nm 13.17-33). E nossa resposta diante
das dificuldades hoje deve ser: “Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para
que veja” (2Rs 6.17). Será que “a mão do Senhor está encolhida, e não pode
salvar?” (Is 59.1). Vamos vê-lo apenas como o Deus do passado, o Deus das
profecias, mas não do presente?
O sermão de Pedro no dia de Pentecostes foi penetrante, além
de fervoroso. A verdade bíblica ganhou vida. “Mas o que ocorre é o que foi
dito por intermédio do profeta Joel” (At 2.16). O escritor inspirado sentiu
logo que essa “espada do Senhor” tinha um novo corte, de modo que a usou para
tocar o coração dos ouvintes.
As pessoas estão sempre dizendo que, nos dias difíceis em que
vivemos, os ouvintes precisam mais é de palavras de consolo. Concordo. Há
muitos que de fato precisam de conforto: os enfermos, os abatidos, os que
sofrem. Contudo, que ninguém se esqueça de que aquele que vê uma casa
incendiando-se e permanece em silêncio comete um crime. Se alguém vir um
criminoso entrar armado na casa de um vizinho e não der o alarme, não o está
confortando nem um pouco. (E isso não é exagerar a situação de perigo em que vivemos).
Será que vamos falhar ante esse fraco homem de nossos dias,
que objeta à nossa pregação de um evangelho de sangue, de encarnação divina e
de um inferno real? Se falhássemos, estaríamos nos revelando grandes
impostores. É verdade que as legiões do inferno são numerosas; mas as hostes
celestiais o são ,mais ainda. O diabo é poderoso; Deus é todo-poderoso. O que
está em jogo tem imenso valor. O preço é elevado; o prêmio é valiosíssimo.
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