segunda-feira, 17 de outubro de 2011

UM AVIVAMENTO EM UM MONTE DE OSSOS

“Veio sobre mim a mão do Senhor; ele me levou pelo Espírito e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos... eram mui numerosos... e estavam sequíssimos... Disse-me ele: Profetiza a estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor... Então profetizei segundo me fora ordenado... e o espírito entrou neles e viveram e se puseram de pé, um exército sobremodo numeroso” (Ez 37).
Haveria na história humana, fosse na sagrada ou na secular, um quadro mais ridículo que esse? É a encarnação da desesperança. Quem pode dizer que já pregou para uma platéia de surdos-mudos? Um pregador lida com possibilidades, mas o profeta com o impossível. Isaías tivera uma visão de sua nação, em que ela estava coberta de feridas purulentas. Mas aqui, a enfermidade avançara e dera lugar à morte, e à morte, à desintegração orgânica. Agora ali estava um monte de ossos desarticulados, a própria imagem do desespero. Era uma situação que poderia ter uma legenda em letras garrafais: SEM SOLUÇÃO. Para se realizar o que é possível, não é necessário ter fé. No entanto, basta uma quantidade insignificante dessa “substância” que possui a força do átomo para se realizar o impossível, já que um fragmento do tamanho de um grão de mostarda será suficiente para realizar muito mais do que imaginamos. O que Deus pede dos homens é que façam, não o que são capazes, mas, sim, o que não são capazes. Pede que unam sua incapacidade à onipotência dele, para que a palavra impossível seja riscada de seu dicionário.
Os profetas são homens solitários. Andam sozinhos; oram sozinhos. O próprio Deus, ao criá-los, os faz diferentes do homem comum; não são “fabricados em série”. O divino princípio de seleção é inescrutável. Mas que ninguém se desespere; ou se julgue inútil por achar-se velho demais. Moisés estava com oitenta anos quando assumiu a liderança de um povo escravizado e abatido, os filhos de Israel. Jorge Müller viajou a vários países do mundo, mais de uma vez, e pregou a milhões e milhões de pessoas, a viva voz, com setenta anos.
Quanto a Ezequiel, ele não convocou reuniões de comissões, nem enviou cartas missionárias solicitando ofertas e orações. Não levantou fundos para seu ministério, e detestava publicidade. Mas a situação com que se defrontava era questão de vida ou morte. (E a obra de evangelização também o é. Portanto, será bom que nossos evangelistas abram os olhos para que a satisfação teológica que proporcionam a seus ouvintes não arranque deles apenas uma simples exclamação: “Que homem inteligente!”, deixando-os a perecer em trevas). Então Deus ordenou a Ezequiel que dissesse ao seu “monte” de ossos secos: “Ergue-te e lança-te no mar”. Ele o disse, e foi o que sucedeu.
Ali estava uma maldição. Saberia ele revogá-la? Ali havia morte. Seria ele capaz de transmitir vida? Ele não fez nenhuma exposição doutrinária. Caros irmãos, ouçam. O mundo não está querendo mais definições do evangelho, e, sim, novas demonstrações do poder dele. Onde estão os homens de fé — não os doutrinadores — para operar nestes dias de tanta desesperança política e espiritual, e de tanto desregramento moral? Não é preciso ter fé para amaldiçoar as trevas, nem citar estatísticas sinistras, evidências de que as barreiras se desmoronaram e que a avalanche de impureza infernal encobriu esta geração. Doutrina? Já a temos de sobra, enquanto o mundo enfermo, triste, saturado de sexo, sobrecarregado ao peso do pecado, perece de fome espiritual.
É nesta hora sombria, quando o mundo está adormecido em trevas, a igreja dorme em luz. E é assim que Cristo é “ferido na casa dos seus amigos”. E uma igreja trôpega é chamada zombeteiramente de impotente. Enquanto anualmente gastamos montanhas de papel e rios de tinta para reimprimir os escritos de mortos, o Espírito Santo está aí, vivo, procurando aqueles que queiram humilhar-se e confessar que, apesar de verem, estão cegos; aqueles que estejam dispostos a pagar o preço do quebrantamento e lágrimas, para então buscarem a unção do poder divino, num reconhecimento sincero de sua pobreza de alma.

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