terça-feira, 25 de outubro de 2011

EDIFICANDO UM IMPÉRIO PARA DEUS


Se naquele dia, na estrada de Damasco, Saulo tivesse encontrado um pregador e tivesse ouvido um sermão, ninguém nunca mais teria escutado falar dele. Mas ele se encontrou com Cristo. (Às vezes podemos nos esquivar dos pregadores e de ouvir sermões — e muitas vezes o conseguimos — mas não há como fugir de um encontro com Cristo). E naquele instante, sua filosofia de vida teve um confronto com a própria Vida. O zelote religioso exaltado encontrou-se com Aquele que batiza com fogo, e, em conseqüência disso, passou por uma transformação radical, e a. civilização tomou novos rumos. (Ó Senhor, aprouvera a ti fazer o mesmo de novo!) Embora até aquele dia ele fosse aos próprios olhos um impecável, rígido e legalista fariseu, pouco depois ele passou a se apresentar como o principal dos pecadores, aos olhos de Deus. E isso não nos espanta, pois ele foi para a igreja recém-nascida o que Herodes foi para o Cristo recém-nascido — transformando o negro inferno em um desespero de trevas ainda mais densas.
Aquele que já teve uma experiência com Deus nunca será dissuadido por argumentação humana, pois uma experiência com Deus que custa alguma coisa vale muito, e realiza uma obra em nós. O que Paulo vivenciou naquele dia não foi um experimento; foi uma experiência. Contudo, aquele seu encontro com o Senhor naquele dia deve ter sido além de transformador, bastante aterrador. Ele teve uma visão de Deus que o cegou, pois foi “mais resplandecente que o sol”. A partir daquele instante, Paulo se tornou cego para todas as honras terrenas. “Aqueles que honram a ti, Senhor, nunca me honrarão”, disse F. W. H. Meyer. O confronto de Saulo com Cristo primeiro estraçalhou seu sonho de glórias intelectuais e aniquilou seus prospectos para a vida terrena. Depois, já vencido, ele desce mais um degrau para entrar em outra batalha com Deus: o “desvestimento” a que se submeteu no deserto da Arábia (cujas experiências ele foi proibido de relatar).
E de alguma forma esse conquistador de almas para Cristo, com seu intelecto privilegiado e sua maravilhosa linhagem, recebeu seu Senhor não apenas como um substituto mas também como sua vida, numa identificação total com ele — “Morri (em Cristo)”. (E todos nós dizemos a mesma coisa com certa leviandade). Além disso, Paulo afirma em tom triunfante: “Cristo v-i-v-e em mim”. Vamos entender esse fato. Será que se nós déssemos esse mesmo testemunho, nossos amigos o confirmariam ou ririam de nós? Mas esse dedicado servo do Salvador ergueu-se de entre as cinzas do seu ego destruído, para ser o Sansão do Novo Testamento, arrancando os portões da História com os ferrolhos e tudo, e lavando os estábulos da corrupção asiática com o sangue de Cristo. Que homem abençoado!
Depois de obter a paz com Deus, Paulo declarou guerra a tudo que era contra Deus. Primeiro ele encantou os intelectuais de Atenas com seu doce e novo cântico do evangelho, mas terminou seu hino abruptamente, lançando mão da trombeta da ressurreição, o que espantou os atenienses, fazendo com que fugissem, assustados com a dureza dessa verdade.
Mas o que fazia esse homem rir das difíceis barreiras que enfrentava? Por que morria diariamente? Qual a razão de possuir força inigualável para enfrentar as adversidades que enfrentou? (2Co 11). Que explicação racional se poderia dar para o fato de haver suportado um fardo tão pesado? A resposta não está em nenhuma idéia que possamos ter, mas no bem redigido diário que deixou, onde expõe sua alma. Por mais espantoso que isso possa parecer, ele fez afirmações como “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Pensemos bem nisso. Ele não está afirmando que acredita no nascimento virginal de Jesus, nem diz que crê que ele ressuscitou, embora, naturalmente, cresse nesses fatos. O que ele diz é “Cristo vive em mim”. Antes, ele se encontrava nas profundezas da pecaminosidade (“Não sou eu, mas o pecado que habita em mim” Rm 7.17), mas saiu de lá e atingiu o ápice da espiritualidade: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Que grandiosa transformação de vida!
A vida de Paulo foi exemplar. Ele não era uma “placa de sinalização”; era um verdadeiro guia. Ouçamos o que ele diz: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai” (Fp 4.9). Era realmente uma “carta viva”.
Mas a vida dele foi também excepcional. Será que alguém seria tão obtuso a ponto de afirmar que temos a mesma abnegação de Paulo? Parece que a melhor descrição para nós é “cada um se desviava pelo seu caminho” (I. B. B.). Ele foi excepcional pelo fato de haver escrito tantas cartas e fundado tantas igrejas. Mas vejamos outra vez a lista de adversidades que suportou, e que se encontra em 2 Coríntios 11. Será que ele está querendo mostrar-se mais sofredor que os outros mártires, ou apresentar suas qualificações para ser incluído entre os santos? Nada disso! Para ele, a posição, a linhagem e os privilégios são como refugo para ganhar a Cristo. E ele o ganhou, por sua obediência constante. Ele se mostrou excepcional em meio ao sofrimento — que lhe era imposto por outros; mas também foi excepcional na oração — que praticava por decisão pessoal. Se hoje houvesse mais crentes de oração, haveria também mais pessoas preparadas para o sofrimento. A oração desenvolve em nós o tônus espiritual, mas também nos acarreta mais sofrimentos; dá-nos resistência espiritual, e nos faz crescer em santidade; faz-nos fortes no espírito, e traz sobre nós o fogo.

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